Artigo Sobre Ana Miranda
Avanúzia Ferreira Matias1
Carla Poennia Gadelha Soares2
RESUMO: É possível pensar o corpo como um texto? E, se o corpo é texto, é capaz, então, de comunicar. Mas o que ele pode dizer sobre seus anseios e desejos? Sabe-se que a produção do discurso erótico/pornográfico nos revela a “materialização” de personagens construídas visual e linguisticamente, por meio de elementos verbais que expressam vontades e sensações muitas vezes censuradas no meio social. Sabe-se também que é possível analisar o enunciado enquanto reproduz a erotização do corpo, bem como os recursos verbais que facilitam a caracterização das personagens, ora valorizadas, ora ridicularizadas. Nosso objetivo, portanto, é perscrutar o discurso erótico explorado em três contos de Ana Miranda para refletir sobre a relação corpo/texto enquanto material significativo para a emancipação sexual feminina por meio do erotismo, bem como a relação suporte-gênero como estratégia para contestar o preconceito em relação a esse tipo de discurso escrito por mulheres. Ao analisarmos o discurso das referidas produções, guiaremo-nos principalmente pelo aporte teórico de Maingueneau (2010; 2005; 1997) para verificarmos a forma como os componentes textuais geram tal discurso. Para o autor, o texto erótico é sempre tomado pela tentação do esteticismo, tentado a transformar a sugestão sexual em contemplação de formas puras. De acordo com Henri-Pierre Jeudy (2002), a partir de Nietzsche, o corpo pensa na imanência mais radical, e a representação desta atividade pela consciência corresponde apenas a uma pequena razão, às vezes, imoral aos olhos de quem lê, porém necessária ao nosso organismo. O corpo, a partir de certos gestos e sensações, impõe, para além de nossa consciência, sua própria razão, e expressa-se, por vezes, por meio de signos e sintomas julgados patológicos, abjetos; contudo, temos convicção de que o discurso