Artigo luis farias
FORMAÇÃO DA INTELIGENTSIA
Luísa Leal de Faria
Universidade Católica
Sociedade Científica
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Têm sido publicados, nas últimas décadas, inúmeros estudos que observam, analisam e comentam o que consideram ser a decadência das universidades. Os títulos falam de colapso moral, de declínio, de ruína. De acordo com estas perspectivas sombrias, as universidades estão em crise, interna e externa. Interna, porque os saberes se fragmentaram e não surgem agora articulados através de matrizes unificadoras. Os seus princípios de legitimação entraram em erosão e as delimitações clássicas dos diversos campos científicos são postas em causa: desaparecem disciplinas, surgem novas áreas híbridas nas fronteiras das ciências, de onde nascem novos territórios. A hierarquia especulativa dos conhecimentos dá lugar a um a teia imanente, e horizontal, por assim dizer, onde as fronteiras se deslocam constantemente. As antigas Faculdades fragmentam-se em departamentos, em institutos, em centros, em fundações, e assim as universidades vão perdendo a sua função de legitimação especulativa.
Passam apenas a transmitir os saberes tidos como estabelecidos e asseguram, pela didáctica, a reprodução dos professores e não a formação da intelligentsia.
A crise dos saberes é também uma crise institucional. Os conflitos surgidos nas áreas disciplinares apontam para contradições que radicam na própria ideia de universidade, enquanto instituição dedicada predominantemente à investigação científica ou à docência,
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Maria Luísa Homem Leal de Faria Geraldes Barba é professora catedrática da Faculdade de Ciências
Humanas da Universidade Católica Portuguesa e, desde 2004, Vice-reitora desta Universidade. Fez provas de Doutoramento em Cultura Inglesa e Agregação na Universidade de Lisboa, Faculdade de
Letras. Leccionou na Faculdade de Letras desde 1972 e também na Universidade Católica Portuguesa, onde coordenou a área de Ciências da Comunicação