Artigo: literatura e linguagem, por cássio pantaleoni

A literatura – a grande literatura – sempre foi construída a partir do trato das questões humanas. Questões essas que flertam com a ética, a moral, a estética, a metafísica e – para usar uma terminologia mais técnica – a ontologia (o estudo do ser). Podemos observá-las em interpelações como “O que devo fazer?”, “O que possui valor?”, “ Por que há o mundo?”, “ Por que o ser e não antes o nada?”. Tais inquisições inauguram, sempre e toda a vez, essa circunstância existencial que nos motiva a usar as palavras para conformar o texto literário, seja em prosa ou poesia. As reflexões que iniciamos quando fazemos a colocação de qualquer pergunta – ora muito, ora pouco elaborada – de todo o modo refere as grandes questões filosóficas, mesmo que sem a profundidade formal exigida pelo círculos acadêmicos. Cabe reparar que todo o pronome interrogativo é um instrumento que nos abre para o pensamento, para a reflexão, colocando-nos na disposição de resolver o a-se-pensar. Esse a-se-pensar é o indício vago de questões que, desde sempre, estiveram em pauta na filosofia. Grosseiramente, exemplica-se algumas dessas aproximações: se perguntamos “o que?” estamos de caso com a representação (apofansis); se utilizamos o “por que?”, estamos atentos à causalidade (metafísica); se nos interessa o “como?”, queremos compreender a interpretação (hermenêutica); se perguntamos pelo “quando?”, estamos dispostos a entender em que condições (acontecimento-apropriação); o “onde?”, recupera essa noção dualística de homem-mundo (dualismo); o “quem?”, está de caso com a existência (existencialismo); e o “para que?”, alimenta nossa curiosidade pela finalidade das coisas (teleologia). “Toda a literatura que se ocupa com as questões humanas necessita dos recursos da representação disponíveis na linguagem. Aquele que não domina a linguagem escreve pelas bordas.” Já insinuado, mas convém repetir: o fazer literário não acontece em sua dimensão mais distinta e admirada sem que as grandes