artigo economia
Henrique de Campos Meirelles, ex-presidente do Banco Central.
13/04/2014 03h00
O Datafolha vem mostrando o crescimento da preocupação com a alta dos preços no país. De outubro para cá, a parcela dos brasileiros que espera aumento da inflação foi de 54% para 65%, maior patamar da série. A sensibilidade da população a uma inflação mais alta representa mudança histórica e positiva no cenário econômico, cultural e eleitoral.
Uma das razões pelas quais o país teve um dos mais longos períodos de hiperinflação da história recente da humanidade foi por sua tolerância a "um pouco de inflação". Mudava só o vilão da vez: chuchu, gasolina, tomate...
A inflação não é obra de vilões, mas resultado de desequilíbrios entre a demanda e a oferta de bens e serviços.
Ela aumenta na medida em que há maior disponibilidade de recursos, fruto de políticas monetária e/ou fiscal expansionistas não acompanhadas de uma maior capacidade de produção. E, quanto mais persistente, maior a expectativa de inflação futura, o que cobra ações mais enérgicas e custosas para combatê-la. Esse custo cria resistência de alguns setores à adoção das medidas na dose necessária. Muitas vezes acaba-se combatendo mais os efeitos do que as causas.
A eficácia do controle das expectativas de inflação e da própria inflação passa fundamentalmente pelos resultados obtidos. Com ela na meta, a população tende a achar que ela seguirá ao redor da meta. E a meta de inflação no Brasil é uma só: 4,5% ao ano. O intervalo de tolerância de 2 pontos serve só para acomodar choques de ofertas, como os de alimentos, que são temporários.
A população viu na última década que é possível viver com inflação controlada e aprendeu a identificar melhor os custos da inflação mais alta.
São custos que impactam de forma bem diferente os vários setores da sociedade. Um trabalhador, por exemplo, tem o salário reajustado uma vez ao ano, enquanto comerciantes podem reajustar preços diariamente. A arrecadação de