Artigo ecocom
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18 páginas
20 de fevereiro de 2005Ecologia de comunidades
Felipe A. P. L. Costa (*) La Insignia. Brasil, fevereiro de 2005.
O termo "comunidade" tem uma história de uso bastante flexível na literatura ecológica, quase sempre para fazer referência a um agrupamento de espécies que vivem temporariamente juntas. Dos três níveis tradicionais de estudo em ecologia (organismos individuais, populações de indivíduos, comunidades de espécies), a comunidade representa o mais arbitrário e abstrato de todos, pois, como nem todas as espécies que vivem juntas interagem de modo significativo, muitas vezes é difícil decidir quem participa ou não da comunidade. A rigor, na ausência de mudanças bruscas de hábitat, quando a paisagem natural tende então a diferir de modo mais evidente, a delimitação de comunidades é quase sempre uma decisão arbitrária, que varia de acordo com os interesses do observador. Dificuldades metodológicas e operacionais, no entanto, não impedem que comunidades sejam um foco recorrente de estudos científicos. Antes de mais nada, o enfoque comunitário é necessário para investigar de modo apropriado uma série de fenômenos ecológicos emergentes (ciclagem de nutrientes, mimetismo, partilha de recursos, sucessão etc.), que não poderiam ser explicados ou reduzidos ao nível populacional - a exemplo, aliás, do que ocorre com atributos populacionais, que não podem simplesmente ser reduzidos ao nível individual. A ecologia de comunidades mudou bastante ao longo do século 20. Os estudos iniciais eram essencialmente descritivos, inspirados nos relatos que os naturalistas europeus fizeram de suas viagens pelo Novo Mundo, nos séculos 18 e 19. Boa parte do trabalho consistia em nomear e classificar as comunidades, como se elas fossem organismos. Surgiu então a visão de comunidade como um todo integrado ("superorganismo"), defendida inicialmente por F. [Frederick] E. [Edward] Clements (1874-1945), ao mesmo tempo em que surgia uma escola contrária, liderada por H. [Henry] A.