Artigo de opinião - Eu não sou seu amigo

“Eu não sou seu amigo”
Sempre achei estranha essa ideia que as pessoas têm de amizade. De uma convenção social, ela se torna uma relação afetiva forçada, imposta e até estranha. Lembro-me bem das redações que a “tia do fundamental” nos solicitava: se o tema fosse “a amizade”, já era clichê ouvir coisas romantizadas, qual “Canção da América”, sabe? Era o momento oportuno para demonstrarmos nosso “amor fraternal”, tendo em vista a necessidade de cultivar amigos, afinal, amigo é pra se guardar (trecho maquinal que todos citávamos quando não tínhamos nada melhor para escrever) – perdoe, caro leitor, a sinceridade.
O fato é que nossos discursos eram cheios de demagogia, a começar por chamar a professora de “tia”, ou até mesmo achar que o professor legal de Língua Portuguesa é nosso melhor amigo, como se fosse necessário sermos amiguinhos – em nosso conceito pobre e restrito de amizade – para estarmos muito-bem-obrigada. Ser amigo e manter uma boa relação são coisas distintas. Eu mantenho uma boa relação com o leiteiro, o padeiro, meus vizinhos e até uma garota da classe, a qual não guardo nenhum afeto. Existe amizade, mas não somos amigos. Há amizade na rua, no trabalho, na escola, no churrasco de fim de semana... São inúmeros os cenários onde ela opera.
Não fosse essa amizade, meus pais, os quais o destino (ou a falta de cumplicidade) separou, viveriam em pé de guerra, externando suas frustrações. Mas ela está acima de afetos ou desafetos, diga-se “acima do bem e do mal”. Malgrado o senso comum, existe amizade mesmo em uma relação harmoniosa com um desafeto. Não há “falsidade”, como pensam os ignorantes A amizade direcionada apenas aos “queridos”, essa sim inexiste, porque se houvesse, a força dela nas relações humanas sucumbiria. Não sou contra ter amigos, tenho uma meia dúzia de seres humanos tão próximos que até posso me dar ao luxo de nominá-los dessa forma. Mas acredito que as pessoas tem de desconstruir esse “modelo de amizade” criado na infância que