artes
No decorrer deste doze anos, descobrimos que muito pouca gente sabe o significado de uma Carranca e sua importância cultural para nosso país, principalmente nas cidades que margeiam o "Veho Chico". Muitos associam-na à "magia negra", alguns evangélicos, até, ao próprio demônio personificado. Cada qual à medida de sua crença ou medo - mais medos e aculturações, que crenças - atribuem-lhe características místicas.
Vejamos como o dicionário Luft as define: "Car.ran.ca s.f. 1.cara feia, carregada 2.máscara 3. Figura de ornato em chafariz, proa de navio, etc. 4. Peça em forma de cara, para manter a veneziana aberta, ou Car.ran.ca adj. 2g e s2g. Pessoa apegada ao passado."
Nenhuma dessa definições é capaz de dar-nos a real dimensão do que é uma Carranca, peça muito mais mítica que mística e que povoa os sonhos e pesadelos dos seres humanos, desde os primóridios da navegação pelos mesmos motivos: o medo dos "monstros" das águas...
- "Meu avô sempre ia pescar com meu tio-avô, nuns rios que tinham aí pra cima. Meu tio sempre falava pra tomar cuidado com o caboclo d´água, uma mistura de homem e macaco que vira a canoa para comer as pessoas. Meu avô num acreditava em nada disso. Mas um dia ele tava pescando, a canoa começou a bambear. Quando ele viu uma mão agarrada na borda, ele tirou o facão e cortou. Era a mão do caboclo d´água, ela era preta com umas coisas assim no dedo que nem pato. Ele guardou isso até as vésperas de sua morte. A carranca é pra isso, o caboclo d´água vê aquela cara mais feia que ele e vai embora". - conta Chico Chagas, um "carranqueiro" (entalhador de carrancas) à equipe da Expedição Américo Vespúcio (americovespucio.com.br).
Além de exímio carpinteiro, fazendeiro, tocador de sanfona e ótimo contador de casos, seo Francisco Chagas é o primeiro artesão a fabricar carrancas já na nascente do rio São Francisco.
Ligado ao rio até pelo nome, seo Chico Chagas, como é conhecido, mora num sítio