Artes - Antonio Ribeiro
É útil sublinhar isto, porque o preconceito existe; mas não chega fazê-lo. Se há esta variedade toda e se a sociedade a suporta é em grande medida porque tem os seus usos, nomeadamente monumentalizar diferentes interesses, ideologias ou identidades, representando-as dentro do discurso público.
Naturalmente, mesmo esta ideia do papel da arte na sociedade é apenas uma entre muitas. Poderia contrapôr-se-lhe a ideia que a arte só se representa a si mesma (que é autónoma). Mas esta discussão não é particularmente interessante porque é parcial. Qualquer artista (ou comissário ou crítico), (acredite ou não na autonomia da arte), se produz em público, se o seu trabalho é conhecido, mesmo que por uma minoria, inscreve-se em estruturas institucionais (escolas, museus, galerias, mas também estilos e modelos de remuneração). E é isso que, dentro de um discurso de esquerda, importa perceber. Não se trata de discutir facturas, estruturas hierárquicas e financiamentos esquecendo a experiência estética, mas de perceber que a experiência estética não só é gerada por este contexto institucional como ajuda a criá-lo e a legitimá-lo.
Dentro da arte e da cultura são perfeitamente visíveis os mesmos movimentos de precarização do trabalho, de celebração da desigualdade e de privatização que ocorrem na sociedade geral. Só isso chegaria para demonstrar que não há – nem pode haver – autonomia. Quando muito tem-se uma cultura a tentar distanciar-se de modos de ligação à sociedade que já não interessam tanto, que se desactualizaram.
Interessa perceber esses mecanismos que ligam a arte à sociedade. Por aqui,