Arte e Sociedade – Arnold Hauser – paginas 9 e 10 – Editorial Presença – ano: 1984
A arte é uma fonte de conhecimento, não só na medida em que dá continuidade imediata à obra das ciências e complementa suas descobertas, como nomeadamente as da psicologia, mas também na medida em que chama a atenção para as fronteiras onde a ciência falha, e entra em cena, quando se considera capaz de adquirir novos conhecimentos, inviáveis fora do campo da arte. É através dela que chegamos a conhecimentos que alargam o nosso saber, embora não tenha um carácter abstracto-científico. Pois apesar de a explicação dada pela pintura sobre as relações espaciais ou sobre as formas estereométricas, nem sempre ser plausível no sentido científico, ela contém, não obstante, no que diz respeito à natureza da visualização, não menos informações, cuja importância se alarga para lá do significado da doutrina da perspectiva central ou da estrutura cubista das coisas. De especial alcance são as observações da arte sobre fenômenos para cuja investigação a ciência ainda não dispõe dos meios adequados; a noção artística prevê juízos, que apontam o caminho a seguir pela investigação. São estes que Marx deve ter dito em mente, quando dizia ter conseguido saber mais sobre a história da França moderna através dos romances de Balzac, do que dos livros de história do seu tempo. Ele não pensava certamente em factos históricos, mas na analise do processo social pós-revolucionário e no significado das lutas de classes modernas, para as quais a ciência histórica e social ainda não conseguia ter nem uma compreensão, nem um aparelho conceptual adequados, enquanto Balzac descobriu nelas força e leis convulsivas, que só mais tarde se conseguiriam explicar e formular cientificamente. Aconteceu assim que os primeiros passos do romance moderno e os fundamentos da sociologia, no sentido actual do termo, coincidiram e que a arte e a ciência utilizaram o mesmo código, para provar que as fantasias mais loucas de um