Aristoteles
Ética a Nicômaco, para separar a arte, que constitui a competência ou o domínio na ordem da “produção”
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, e a “prudência”, excelência da ação, ou ao menos excelência dianoética da ação (pois a qualidade da ação depende também da qualidade do êthos). Esta distinção é levada a um grau de contraste que não é regularmente seguido no conjunto do corpus e é expressa segundo fórmulas cuja justificação não é patente. Entretanto, nós temos o sentimento de que o esboço que se segue pode ser mantido como ponto de partida com o qual todos os exegetas concordarão, reconhecendo, evidentemente, que ocorre a Aristóteles desviar-se em um ponto ou outro, mas em contextos, bem entendido, onde se pode de antemão dizer que um certo grau de imprecisão não atrapalha o raciocínio.
Bernard Besnier
Ecole Normale Supérieure de Fontenay-St-Cloud
A DISTINÇÃO ENTRE PRAXIS E POIÊSIS EM ARISTÓTELES
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(*) Além dos organizadores do Colóquio de Porto Alegre, agradeço a Carlo Natali, que teve a gentileza de ler uma primeira versão deste artigo e de me advertir de alguns erros. Sem dúvida não de todos; não pode, porém, ser considerado responsável por aqueles que subsistem.
(1) Se o paralelismo entre praxis e poiêsis fosse completo, a arte deveria ser a excelência (¢ret») da poiêsis, do mesmo modo que a prudência o é da praxis. Por razões que serão evocadas no final deste artigo, este paralelismo não é completo, mas não deixa de estar esboçado, na medida em que as definições são construídas segundo um esquema comum.128
A DISTINÇÃO ENTRE PRAXIS E POIÊSIS EM ARISTÓTELES* volume 1 número 3
1996
(i) Praxis e poiêsis têm em comum o fato de possuírem correlatos (os prakt£ e os p o i h t £) que pertencem ao mesmo domínio, ou antes, ao mesmo tipo de realidade(s), a saber, aquelas que podem ser de outro modo (e em cuja descrição se pode incluir o fato de tanto poder não ser quanto poder ser) (1140a1).