Arendtcrise Na Cultura 0
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6A CRISE DA CULTURA
Sua importância social e política
I
Faz agora mais de dez anos que presenciamos entre os ^intelectuais uma preocupação cada vez maior com o fenómeno relativamente novo da cultura de massa.
O termo, em si, origina-se evidentemente do termo, não muito mais antigo, "sociedade de massas"; o pressuposto tácito subjacente a todas as discussões do assunto é que a cultura de massas, lógica e inevitavelmente, é a cultura de uma sociedade de massas. O
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fato mais importante acerca da curta história de ambos os termos é que, se ainda há alguns anos eram empregados com um enérgico senso de reprovação — implicando ser a sociedade de massas uma forma depravada de sociedade, e a cultura de massas, uma contradição em termos —, eles se tornaram hoje em dia respeitáveis, o tema de inúmeros estudos e projetos de pesquisa cujo efeito principal, como o salientou Harold Rosenberg, é "adicionar ao kitsch uma dimensão intelectual". Essa "intelectualização do kitsch" é justificada com base em que a sociedade de massas, gostemos ou não, irá continuar conosco no futuro previsível; por conseguinte, sua "cultura", a "cultura popular [não pode] ser relegada ao populacho" '. A questão, no entanto, é saber se o que é legítimo para a sociedade de massas também o é para a cultura de massas, ou, em outras palavras, se a relação entre sociedade de massas e cultura será, mutatis mutandis, idêntica à relação anteriormente existente entre sociedade e cultura. A questão da cultura de massas desperta, antes de mais nada, um outro problema mais fundamental, o do relacionamento altamente problemático entre sociedade e cultura. Basta que recordemos até que ponto todo o movimento da arte moderna partiu de uma veemente rebelião do artista contra a sociedade como tal
(e não contra uma sociedade de massas ainda desconhecida) para que tomemos consciência do quanto esse relacionamento inicial deve ter deixado a desejar, acautelando-nos assim contra o anelo fácil de tantos críticos da