Apontamentos sobre o conto 'o alienista' de machado de assis
O conto O Alienista foi originalmente publicado entre 1881 e 1882 como parte da coletânea Papéis Avulsos. Este conto expressa a crítica ao cientificismo do século XIX e, por extensão, ao positivismo. A obra permite a reflexão sobre a literatura enquanto um saber que também indaga sobre o seu tempo e questiona a verdade e o poder estabelecidos. Trata-se de outro saber, que não se pretende científico, mas que é tão legítimo quanto aquele. Além desta leitura evidente do conto, pode-se também perceber, como um significado mais profundo ao texto, uma crítica e uma reflexão sobre o mecanismo do poder. Baseado no registro das crônicas antigas, para dar veracidade e credibilidade ao seu texto, Machado faz uma viva crítica ao cientificismo da segunda metade do século XIX. O Dr. Bacamarte, personagem central da trama, simboliza a fragilidade das certezas e verdades científicas tão diferenciadas na época. As contradições possíveis em que a ciência inevitavelmente coloca o homem são ironizadas neste conto, sob a perspectiva da falibilidade do poder constituído como verdade científica. O narrador, em terceira pessoa, apresenta-nos Simão Bacamarte, médico brilhante, “o maior dos médicos do Brasil”[1], que preterindo os grandes centros europeus, retorna à sua terra natal e instala-se em Itaguaí. Casa-se com D. Evarista, mulher de poucos dotes físicos, mas a quem o médico considera apta, por suas condições fisiológicas e anatômicas, a dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Mas, contrariando as suas esperanças, D. Evarista não lhe dá filhos. Talvez aqui já possamos perceber um primeiro indício da falibilidade da ciência. O proeminente Dr. Simão Bacamarte detém a autoridade de definir os critérios sobre o que é a conduta normal e a que indica estágio de loucura. Seu poder de autoridade tem a ciência como base, da qual se considera representante, juiz e executor. Amparado em argumentos