Ao meu Pastor
Há muito queria escrever-lhe. Confesso que senti-me intimidado por temer que você – vou chamar-lhe de você – não entendesse minha motivação ao redigir esta carta. Escrevo por amor e com um grande cuidado por sua vida e seu futuro.
Venho percebendo que você anda tenso. Entendo o seu estresse. Ser pastor nesses dias não é fácil. Sua atividade vem sendo duramente criticada pelos formadores de opinião. Nota-se uma antipatia nacional para com os pastores. Ontem, 28 de março de 2000, lendo a Folha de São Paulo, imaginei como você deve ter se sentido quando o Arnaldo Jabor, escrevendo sobre a miséria, atacou duramente as igrejas evangélicas: “Quanto faturam as igrejas evangélicas com a miséria, quanto milhões de dízimos pingam nos bolsos daqueles oportunistas de terno e gravata que não acreditam em Deus?”
Sei que é perturbador ser rotulado como oportunista. O grande público mal sabe que a grande maioria dos pastores ganha salários baixos e, como todos os brasileiros, sobrevive heroicamente numa economia perversa. Às vezes, gostaria de sair em sua defesa. Mostrar que o segmento evangélico mais visível na televisão faz muito alarde, mas não representa o pulsar da igreja como um todo. Embora muitos não acreditem, é preciso deixar claro que ainda há pastores que não fazem conchavos políticos ordinários. Seus ministérios não estão à venda. Para a enorme maioria de homens e mulheres como você, a causa de Cristo é mais preciosa que projetos pessoais. Entretanto, não sairei publicamente para defender-lhe. Jesus Cristo afirmou que a sabedoria é justificada por todos os seus filhos (Lc 7.35). Sua vida basta como testemunho. Continue na estrada menos trilhada.
Recordo-me daquela experiência que você nos relatou publicamente. Você estava em um mega evento evangélico. Inquieto com a luta de outros pastores para se sentarem nos primeiros lugares; percebendo que a maior parte do culto fora dedicado à promoção de cantores evangélicos; sabendo que grande parte do