ao gás
Este poema desenvolve-se acompanhando o deambular do sujeito poético pelas ruas da cidade - "Passeios de lajedo", "as embocaduras", "Cercam-me as lojas" - num determinado período do dia, a noite - "A noite pesa, esmaga".
Ao longo do poema há referências a determinados tipos sociais: as impuras, as burguesinhas, a mulher "magnética" ("a lúbrica pessoa") e a velha de bandós constituem o leque feminino de personagens; a par, surgem outras figuras como o forjador, o "ratoneiro imberbe", os caixeiros, o cauteleiro e o "velho professor" de latim, agora um pobre pedinte.
Das várias figuras femininas referidas neste poema, a mulher "magnética" é talvez a que permite estabelecer mais aproximações e mais pontos de afastamento com outras figuras femininas da imagética cesariana. Assim, pela sua sensualidades, mas ao mesmo tempo pelo seu estudado distanciamento, ela aproxima-se da milady de Deslumbramentos; a sua futilidade coloca-a no pólo oposto ao das mulheres do povo tão frequentes em Cesário Verde: a hortaliceira de Num Bairro Moderno, as peixeiras de Cristalizações, a engomadeira de Contrariedades.
Este excerto constitui uma espécie de súmula de alguns dos temas fulcrais da poesia de Cesário Verde. Assim, para além da variedade de figuras femininas presentes, as outras "personagens" ora são um meio de o poeta expressar a sua solidariedade pelos excluídos (o velho professor de latim), ora um meio de concretizar a pintura da cidade, que aqui aparece, como é constante nos poemas de Cesário, como símbolo de dor, sofrimento, solidão, até de vencidismo - "Mas tudo cansa!". Por oposição, surge, implicitamente, uma ténue alusão ao campo, modelo de saúde, vida, força - "Um cheiro salutar e honesto a pão no forno". Finalmente, dever-se-á ainda referir a fuga imaginativa presente na segunda estrofe ("Eu penso / Ver círios laterais, ver filas de capelas...") e na décima estrofe ("Tornam-se mausoléus as armações fulgentes").
Todo o poema e toda a