Análise - Este inferno de amar, Almeida Garrett (PT-PT)
«Este inferno de amar»
Este inferno de amar – como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há-de apagar?
Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... – foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! Que, doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! Despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes o pus.
Que fez ela? Eu que fiz? – Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...
O título «Este inferno de amar» traz uma ideia contrária há aquilo que deduzimos por amor, pois na maioria das vezes o amor dá-nos uma sensação alegria, bem-estar, conforto, o oposto do que o este poema afirma, pois para o autor, amar é um inferno. O poema exprime os sentimentos confusos do amante, falando apenas de si mesmo como se estivesse a falar sozinho a tentar entender os seus sentimentos
O poema possui uma linguagem simples e popular. Formado por três estrofes compostas por seis versos cada. Também destaca-se a utilização dos sinais de pontuação como interrogações, exclamações e reticências.
Almeida Garrett é considerado o iniciador do romantismo em Portugal, os poemas «Este inferno de amar», «Não te amo» e «Branca Bela» são considerados obras-primas do autor e faz parte do livro «Folhas Caídas», que nasceu de uma intensa paixão de Garrett pela Viscondessa da Luz.