Análise do poema cristal de haroldo de campos
O poema “Cristal” faz parte do livro Xadrez de estrelas (1976). Ele é um exemplo da proposta da poesia concreta em seu momento mais rigoroso, a fase “geométrica”, fase da “matemática da composição”. Fase esta em que se abandona a sintaxe da língua natural e a substitui pela justaposição espacial, encerrando, assim, o ciclo do verso. Em relação ao conteúdo, esse poema é formado de apenas quatro palavras: “cristal”, “fome”, “forma” e a preposição “de”. As três primeiras palavras são substantivos e por isso transmitem a idéia de objetividade. O substantivo é a coisa em si mesma, o objeto que designa, nua e crua. Com efeito, o intuito dos poetas concretos é a de fazer uma poesia clara, objetiva, direta, concreta e não linear. O uso do substantivo sugere, diferentemente do adjetivo que indica subjetividade e do verbo que indica movimento, objetividade e estaticidade, permitindo com que o poema não tenha início, nem fim. Assim, a simultaneidade com que os substantivos estão dispostos no poema revela a quebra da sintaxe como se ela fosse frágil quanto um cristal (função simbólica). A forma com que a palavra cristal se coloca no poema insinua a fragmentação do todo, assim como a frase teria uma unidade rompida, estilhaçada. Os poemas até então tinham um discurso linear, retórico, mas nesse poema, a narratividade do discurso é quebrada e a forma fixa ordenada acaba virando caótica, facilitando até mesmo a leitura e apreensão do significado pelo leitor, pois ele capta o todo mais facilmente do que se fosse seguir a linearidade. Pode-se comparar essa disposição a um tecido ou mesmo a uma teia de aranha onde todas as linhas convergem diferentemente de um poema linear que pressupõe um início e um fim. O cristal é algo puro e límpido, ao mesmo tempo reflete uma ou várias coisas. Nesse sentido, a palavra “cristal” é empregada metaforicamente para representar a ligação entre os signos lingüísticos, pois um implica o outro. Assim