ANÁLISE DO CONTO “A AVÓ CÂNDIDA”, DE MARIA JUDITE DE CARVALHO
A escritora Maria Judite de Carvalho, cujo conto “A avó Cândida” escolhemos como objeto de análise, nasceu em Lisboa no ano de 1921. Estudou na Faculdade de Letras de sua cidade natal, freqüentando o curso de Filologia Românica. Deixou Portugal para morar na Bélgica e na França, durante seis anos. Ao regressar, iniciou-se na carreira literária com o livro de contos Tanta gente, Mariana, publicado em 1959. Considerada autora de grande talento da moderna literatura portuguesa recebeu o prêmio “Camilo Castelo Branco”, com As palavras poupadas (1961), livro de contos. “A avó Cândida” integra a obra Tanta gente, Mariana. Aliás, é um dos contos mais característicos da autora, no qual verificamos, em destaque, o jogo entre aparência e essência. A abordagem desse aspecto pretendida neste estudo (e de outros aspectos acrescentados à proporção que se for prolongando a discussão), bem como a inclusão de pressupostos de teoria da literatura, como a crítica psicanalítica, nos permite uma significativa explicação do conto em apreço. A diegese1 centra-se na personagem protagonista Clara, que opta por deixar de viver com os pais em razão de um relacionamento amoroso, o qual finda por decepcioná-la; relativamente independente e morando sozinha, ela trabalha num escritório, mas passa por dificuldades financeiras. Por isso, recorre à avó Cândida sempre que necessita de dinheiro. A avó, por sua vez, vive um drama oculto que se revela no desfecho do conto. No princípio do discurso temos Clara em seu trabalho no escritório, num dia “em que tudo lhe corria mal”; até o final na casa da avó. Entre o início e o final, no decorrer do dia, tempo de duração do discurso, vão entremeando-se os eventos suscitados por flashbacks de Clara e os eventos correspondentes ao tempo da narrativa. Ao ponderar sobre os comportamentos de Clara e da avó Cândida, notamos que avulta o jogo entre ambas na perspectiva da aparência e da