Análise do Conto "Chá"
“A literatura é pois um sistema vivo de obras agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e só vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a.” Antonio Candido
Para Alfredo Bosi, escritor e crítico literário, “o conto é o lugar privilegiado em que se dizem situações exemplares vividas pelo homem contemporâneo”. Já Julio Cortazar, em seu texto, “Alguns aspectos do conto” (Valise de Cronópio), observa que um conto pode ser o relato de um acontecimento real ou fictício.
Dessa forma, o conto em análise vem ao encontro do pensamento de Bosi ao apresentar personagens que dialogam entre si sobre uma situação vivenciada pelo homem no seu cotidiano.
Nesse sentido, a narrativa apresenta dois personagens que tomam chá em uma sala que, presume-se ser na Academia Brasileira de Letras. A comunicação é estabelecida por meio de um diálogo entre dois escritores que comentam sobre o estado de saúde de um terceiro membro da academia. Este último se encontra em um estado lamentável devido a um derrame, como se pode constatar pelas expressões: “Deu derrame”, “Não diz coisa. Com coisa”.
Do ponto de vista literário, a narrativa apresenta características de um conto moderno. Isso se evidencia pelo espaço e tempo não delimitados e também pela ausência de uma trama, um conflito e um desfecho. Além disso, a própria situação vivenciada pelos personagens se refere a um fato do dia-a-dia.
Quanto ao foco narrativo, percebe-se a ausência de um narrador, visto que, os diálogos se apresentam por meio de um discurso direto entre os dois personagens. De certa forma, é notável um desencontro entre as falas, uma vez que o inusitado das respostas se confirma. Enquanto o primeiro procurava detalhar ao amigo as conseqüências do derrame para o enfermo, o segundo além de ouvir mal, ocupava-se em servir-se das guloseimas oferecidas durante o chá.
Em relação ao tempo, pode-se dizer que a duração do diálogo, bem como