Análise do conto "amor" de clarice lispector

Análise do conto “Amor”, de Clarice Lispector

O conto “Amor”, de Clarice Lispector, aborda um dia na vida da dona de casa, dita “perfeita”, Ana. Podemos perceber que Ana é uma mulher de classe média, mora em um apartamento com o marido e os filhos, para os quais dedica sua vida e todo seu tempo. Ana se agarra ao cotidiano da casa... Mas algo muda em sua rotina quando, ao pegar o bonde para casa com as compras no colo, Ana se vê diante de um cego mascando chicle em um ponto que lhe desencadeia uma explosão de sentimentos conhecida como epifania. Em seu artigo “A construção da epifania nas narrativas de Clarice Lispector”, Fernanda Silva Ferreira explora essa característica comum a diversos contos de Clarice, ela cita vários autores que corroboram com sua afirmativa e que conceituam ou traduzem a epifania de forma diversa:

“uns como uma revelação interior fugaz, outros como um momento excepcional, revelador e determinante; ou ainda como um fenômeno, onde no ponto maior da dualidade entre o ‘eu’ e o ‘outro’, que se dissimula sob diversos disfarces, ocorre a epifania, como momento necessário e insustentável de tensão na narrativa”. (FERREIRA, p. 6)

A explosão de sentimentos desencadeada após o encontro de Ana com o cego se encaixa nesse perfil, sendo a narrativa concentrada na tensão causada por esta epifania. Nesse momento Ana tem uma percebe que o mundo é mais do que sua própria vida, de que há muita coisa lá fora esperando por ela, precisando dela e das quais ela precisava também. Ana se encheu de um amor imenso pelo mundo, ou seja, de vontade de viver como ilustra o trecho: “E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca” (LISPECTOR). A náusea aparece diversas vezes no conto, principalmente quando Ana se encontra no Jardim Botânico se embebendo de toda a sua natureza e vida. A liberdade em que se encontrava provocava o mal estar na personagem como no trecho a seguir: