Análise de poesia
Dactilografia
Álvaro de Campos
Nome: Fernanda Lamas Oliveira
Nº USP: 7195474
Matéria: Introdução aos estudos literários
Professor: Ariovaldo
Dactilografia
Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,
Firmo o projeto, aqui isolado,
Remoto até de quem eu sou.
Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Que náusea da vida!
Que abjeção esta regularidade!
Que sono este ser assim!
Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros
(Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve,
Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes.
Outrora.
Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,
Que é a prática, a útil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.
Na outra não há caixões, nem mortes,
Há só ilustrações de infância:
Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;
Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.
Na outra somos nós,
Na outra vivemos;
Nesta morremos, que é o que viver quer dizer;
Neste momento, pela náusea, vivo na outra ...
Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Análise do poema Dactilografia de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa
Dactilografia, de uma beleza prosaica, é um poema de cunho lírico, mas de um lirismo negativo e pessimista. O verso lírico aproxima-se da prosa e abandona a construção responsável pelo contorno literário. É um poema de sentido funcional que mostra o asco diante das circunstâncias que a vida impõe a cada um. Se comparado aos poemas tradicionais,