Análise de Música- Bienal
O pós-moderno também está na obra de Zeca Baleiro. No repente “Bienal”, canta com Zé Ramalho ao som de violão uma bem-humorada crítica à terminologia dos artistas plásticos, quando estes tentam esclarecer sua arte aos leigos. A inspiração para canção veio da Bienal Internacional de São Paulo de 1996, cujo tema era “A Desmaterialização da Obra de Arte no Fim do Milênio”. O cantor deixou o relato de sua criação no encarte do álbum: “(...) Instigado pelo tom apoteótico do evento, cometi este repente em louvor aos artistas modernos”:
(...) desmaterializando a obra de arte no fim do milênio/ faço um quadro com moléculas de hidrogênio /fios de pentelho de um velho armênio / cuspe de mosca pão dormido asa de barata torta /meu conceito parece à primeira vista /um barrococó figurativo neo-expressionista /com pitadas de art-nouveau pós-surrealista /calcado na revalorização da natureza morta (...)
A arte, na cultura pós-moderna, aparece, aos olhos de Baleiro, não ter outra função além da estética: na letra, composta em primeira pessoa, o artista argumenta sobre o processo de criação de sua obra de arte, chegando a um “resultado estético bacana”, questionando-se nisto a função que a arte assumia na modernidade.
Bienal
Zeca Baleiro
Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
Meu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista calcado da revalorização da natureza morta
Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"
Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e