Análise crítica de SAHLINS, Marshall. Metáforas históricas e realidades míticas: estrutura nos primórdios da história do reino das ilhas Sandwich.
O debate acerca da relevância da estrutura ou da práxis na experiência coletiva dos diferentes povos não perdeu sua importância ao longo das décadas, e recebe novos tons em tempos de reflexão sobre o poder de agência dos sujeitos. Na Introdução de Metáforas históricas e realidades míticas, Marshall Sahlins apresenta o debate teórico sobre o qual foi tecida sua análise dos povos das ilhas Sandwich: “Como a reprodução de uma estrutura se torna a sua transformação?” (p. 28). Em outras palavras, seria possível hierarquizar, ou mesmo polarizar, categorias de análise como estrutura e práxis tendo em vista a complexa relação em que estão imbricadas? Enquanto disciplinas, a Antropologia e a História apresentariam processos necessariamente excludentes, ou a maneira como as mesmas se constituíram acabou por forjar tal oposição?
Ao apresentar a teoria saussureana da clássica oposição entre língua e fala, Sahlins questiona os limites do estruturalismo e a Antropologia que a partir deste modelo se constituiu. Afinal, tal perspectiva não atingiria a profundidade exigida quando se analisam eventos individuais, privilegiando assim o “sistema” em detrimento do “evento”, bem como a “sincronia” (aquilo que acontece ao mesmo tempo) em detrimento da “diacronia” (aquilo que acontece sucessivamente).
Da mesma forma que problematiza os limites da análise estruturalista, questiona a maneira pela qual a práxis é apresentada pela História, desconsiderando muitas vezes as continuidades percebidas na ação de diferentes grupos. O conceito de “longa duração” do historiador Fernand Braudel é apontado por Sahlins como ponto de intersecção entre estrutura e práxis, essas em constante transmutação: cultura e processo histórico resignificariam seus símbolos tendo em vista os contatos