Análise banderiana
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Por Carolina Albala Joffily
Pensão familiar
Jardim da pensãozinha burguesa.
Gatos espapaçados ao sol.
A tiririca sitia os canteiros chatos.
O sol acaba de crestar os gosmilhos que murcharam.
Os girassóis amarelo! resistem.
E as dálias, rechonchudas, plebéias, dominicais.
Um gatinho faz pipi.
Com gestos de garçom de restaurant-Palace
Encobre cuidadosamente a mijadinha.
Sai vibrando com elegância a patinha direita:
- É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.
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Manuel Bandeira: Libertinagem
Cielo e Mare
O mar
Canta como um canário
Um compatriota de boa família
Empanturra-se de uísque
No bar
Famílias tristes
Alguns gigolôs sem efeito
Eu jogo
Ela joga
O navio joga
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Oswald de Andrade: Pau Brasil
Análise
"- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação" (M. Bandeira)
Pretende-se, a seguir, realizar uma breve análise do poema "Pensão Familiar", de Manuel Bandeira, tendo em vista suas semelhanças estilísticas e formais ao "Cielo e Mare", de Oswald de Andrade, de forma a relacionar os poemas segundo padrões estéticos e ideológicos do Movimento Modernista Brasileiro, fazendo-se importante ressaltar que o trabalho a seguir não tem a pretensão de realizar qualquer tipo de análise semântica aprofundada do conteúdo de nenhum dos dois poemas, atendo-se apenas a questões formais.
Para tanto, há de levar-se em conta o fato de que ambos os poemas foram compostos por seus respectivos autores num período que abarca os anos de 1922 a 1930, fase de caráter "radical" modernista, na qual, entre outras, houve a publicação do "Manifesto da Poesia Pau Brasil", por Oswald de Andrade, obra na qual observa-se a proposição de alguns aspectos de extrema relevância, que caracterizam a