Análise ao poema mar portugues
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Análise do poema Escrito a 9 de Junho de 1935, seis meses antes da morte de Fernando Pessoa, este poema tem uma importância eminentemente oculta. Foi neste âmbito que a análise será feita, recorrendo a um texto de Dalila Pereira da Costa, publicado em 1978. O poema «Mar Português» surge na continuação do que é a Mensagem. No entanto, e se tal for possível, é ainda mais hermético do que aquela, porque se na Mensagem se invoca o Mar Português ainda físico da conquista e depois lentamente transcendental ao espírito, no poema «Mar Português» a invocação é já plenamente transcendental, focada na importância da obra do próprio Fernando Pessoa num futuro renascer da alma nacional. Identificam-se temas comuns entre este poema e a Mensagem. Nomeadamente a referência ao mar simultaneamente espelho e abismo, onde a alma se perde no sonho e depois do sonho se reflete num projeto de futuro esplendoroso porque plenamente espiritual e desligado da terra.
Figuras de estilo
Hipérbato – consiste na separação de palavras que pertencem ao mesmo segmento por outras palavras não pertencentes a este lugar.
Analise Formal O poema é constituído por duas estrofes, de seis versos cada (sextilhas). Os versos são decassilábicos e octossílabos. A rima é emparelhada, segundo o esquema aabbcc. As palavras que rimam são, na sua maioria, palavras importantes no universo do poema (sal, Portugal, choraram, rezaram, Bojador, dor, céu). O tema desta composição poética pode dizer-se que é a apresentação dos perigos e das glórias que o mar comporta