Antropologiatexto
6960 palavras
28 páginas
PRESSUPOSTOS DA REFLEXÃO ANTROPOLÓGICASOBRE A VELHICE*
Guita Grin Debert**
As formas pelas quais a vida é periodizada, as categorias de idade presentes em uma sociedade e o caráter dos grupos etários nela constituídos são, do ponto de vista da Antropologia, um material privilegiado para pensarmos na produção e reprodução da vida social. O estudo dessas dimensões é parte fundamental das etnografias preocupadas em dar conta dos tipos de organização social, das formas de controle de recursos políticos e da especificidade das representações culturais.
A pesquisa sobre esses temas esbarra, entretanto, em três conjuntos de dificuldades, próprias das problemáticas marcadas por três tipos de características: categorias culturalmente produzidas, que têm como referência supostos processos biológicos universais; questões que nas sociedades ocidentais contemporâneas se constituíram em problemas sociais; e temas em torno dos quais um discurso científico especializado é institucionalizado.
A velhice, enquanto tema de pesquisa, está marcada por essas características e o interesse deste texto é apresentar algumas das armadilhas que seu estudo traz para os antropólogos que pesquisam as representações e as práticas ligadas ao envelhecimento, em sua própria sociedade ou em sociedades muito distintas da sua.
Tratarei dessas armadilhas através de nove tópicos que podem ser pensados como pressupostos básicos da pesquisa antropológica sobre questões ligadas ao envelhecimento.
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Agradeço os comentários sempre carinhosos e pertinentes de Mariza Corrêa a este texto.
Guita Grin Debert, docente do Departamento de Antropologia do IFCH/ UNICAMP.
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Guita Grin Debert
1 - A velhice não é uma categoria natural
A dificuldade mais evidente, cujo tratamento dá início a boa parte dos manuais e cursos dirigidos à formação de antropólogos interessados em pesquisar o envelhecimento, é a consideração de que a velhice é uma categoria socialmente produzida. Faz-se, assim, uma distinção entre um