Antropologia Jurídica no Filme A Massai Branco
Introdução
O filme A Massai Branca (The White Masai), baseado na autobiografia de Corinne Hofmann a partir da narrativa do relacionamento entre uma mulher branca europeia e um homem negro africano, levanta uma interessante discussão sobre as diferenças culturais, incluindo as de gênero, ao expor o choque cultural vivido por ela ao se apaixonar e casar com um guerreiro Samburu, habitante de Barsaloi, uma comunidade afastada, onde não há eletricidade, água encanada, asfalto, posto médico, nem mesmo moradias confortáveis: os Samburus moram em cabanas adaptáveis a sua natureza seminômade.
A vida nessas condições é extremamente difícil aos nativos. Aos não-nativos é praticamente impossível. Por isso o filme registra a superação de uma jovem capaz de abrir mão de toda comodidade que a cidade oferece para viver um amor desconhecido em um grupo social extremamente diferente a sua formação cultural europeizada. Inserida em um ambiente inóspito, completamente estranho aos costumes das sociedades urbanas modernas, onde os costumes locais suplantam os direitos humanos ocidentais, ela presencia situações que lhe causam repulsa ou aceitação, consternação ou respeito, representando a assimilação da cultura local, ora com acomodação, ora com estranhamento do fato.
Entre os Samburus, grupo social fechado e de pouca referência externa, os interesses das mulheres não são considerados e estas são menos importantes que as cabras e as vacas, tendo em vista tratar-se de uma sociedade de pastores onde esses animais são essenciais à sobrevivência do grupo. Com uma formação machista, os Samburus praticam a mutilação genitália das meninas ao entrarem na adolescência como uma forma de controlar a vida sexual feminina, não utilizam técnicas ou ferramentas de ampliação da produtividade e cultuam ritos que afastam homens e mulheres de uma convivência mais afetiva. Neste cenário perdido no tempo e no espaço, longe de tudo