Antonio Gedeao
Licenciou-se eu ciências físico-químicas na faculdade de ciências da Universidade do Porto mas contudo, o amor pelas letras levou a criar um pseudónimo inteiramente dedicado a escrita.
Rómulo de Carvalho, ficou tão conhecido por esse nome, enquanto homem da ciência, como pelo de António Gedeão, enquanto homem de Letras e poeta.
Movimento Perpétuo foi a sua primeira obra publicada, em 1956, embora António Gedeão escrevesse desde novo.
Seguiram-se Teatro do Mundo, em 1958, Máquina de Fogo, em 1961, Poesias Completas, em 1964, que reúne toda a obra até então editada.
António Gedeão
BIOGRAFIA
Lágrima de preta
Encontrei uma preta que estava a chorar, pedi-lhe uma lágrima para a analisar. Recolhi a lágrima com todo o cuidado num tubo de ensaio bem esterilizado. Olhei-a de um lado, do outro e de frente: tinha um ar de gota muito transparente. Mandei vir os ácidos, as bases e os sais, as drogas usadas em casos que tais. Ensaiei a frio, experimentei ao lume, de todas as vezes deu-me o que é costume:
Nem sinais de negro, nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo) e cloreto de sódio.
Lírio Roxo
Viajei por toda a Terra desde o norte até ao sul; em toda a parte do mundo vi mar verde e céu azul.
Em toda a parte vi flores romperem do pó do chão, universais, como as dores do mundo, que em toda a parte se dão.
Vi sempre estrelas serenas e as ondas morrendo em espuma.
Todo o Sol um Sol apenas,
E a Lua sempre só uma.
Diferente de quando existe
Só a dor que me reparte.
Enquanto em mim morro triste,
Nasço alegre em toda a parte.