"Antologia poética" - Análise da obra de Carlos Drummond de Andrade
O ser e o mundo
Organizada pelo próprio Carlos Drummond de Andrade e publicada em 1962, a Antologia Poética reúne textos que originalmente saíram em diversos livros. A obra foi dividida pelo autor em nove partes, cada uma correspondente a um universo temático específico. São as seguintes: um eu todo retorcido; uma província: esta; a família que me dei; cantar de amigos; na praça de convites; amar-amaro; poesia contemplada; uma, duas argolinhas; tentativa de exploração e de interpretação do estar-no-mundo.
A seleção que Drummond empreendeu revela alto grau de consciência do escritor sobre seu fazer poético. Os temas que escolheu são basicamente os mesmos que a crítica, no futuro, sintetizaria como os fundamentais em sua vasta obra.
Há uma tensão na poesia de Drummond, principalmente a partir do livro "Sentimento do Mundo" (1940), que faz o poeta questionar sua atividade com extrema severidade. Tal tensão tem como eixo temático uma oposição entre o ser do poeta e o mundo exterior. Quando o eu-lírico se volta para si, sente que seria melhor dirigir-se ao mundo; quando se volta para o mundo, sente que seria menos pretensioso limitar-se à esfera do ser.
No “Poema de Sete Faces”, o polo do ser tem prioridade, como mostram os seguintes versos:
Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.
Num poema posterior, “Mundo Grande”, o eu-lírico parece responder àquela sentença:
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo, por isso me grito, por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias: preciso de todos.
Essa tensão de impulsos contraditórios será a origem de todos os desdobramentos