antes e depois Socrates
Julio Fontana
Esse livro é o resultado de quatro palestras com duração de quatro horas cada uma proferidas por F. M. Cornford num curso de filosofia grega nos “Encontros de
Verão” organizados pelo Board of Extra-Mural Studies de Cambrigde, em agosto de 1932. O assunto escolhido para os “Encontros” foi a contribuição da Grécia Antiga para a vida moderna. Cada um dos capítulos do livro contém uma dessas palestras, sendo a primeira sobre a ciência jônica antes de Sócrates, a segunda sobre o próprio Sócrates, a terceira sobre Platão e a última sobre
Aristóteles. Sócrates aqui é a figura central, pois ele foi o responsável pela conversão da filosofia do estudo da
Natureza ao estudo da vida humana.
Cornford em seu primeiro capítulo, que versa sobre a ciência jônica pré-socrática, explica que apesar de toda a influência do Oriente sobre os primeiros físicos, havia algo de especial naquele novo conhecimento. Ele afirma que a ciência tem início quando se passa a compreender o universo como um todo natural, com comportamentos imutáveis e próprios
– comportamentos que podem ser determinados pela razão humana, mas que estão além do controle da ação humana. A ciência jônica da Natureza – o germe a partir do qual toda a ciência européia se desenvolveu – marcou uma atitude mental em que o objeto foi completamente separado do sujeito, podendo ser contemplado pelo pensamento como algo livre dos interesses da ação. Os frutos desta atitude foram os primeiros sistemas do mundo que se declaravam construções racionais da realidade.
A filosofia socrática, segundo o autor, é uma reação contra essa inclinação materialista da ciência física.
Para redescobrir o mundo espiritual, a filosofia teve que desistir, por um momento, da busca da substância material na Natureza externa, e voltar os olhos para a natureza da alma humana. Foi esta a revolução realizada por Sócrates, com sua injunção délfica “Conhece-te a ti mesmo”. A preocupação central de Sócrates é a alma.
O germe