Analise setorial
Na briga entre governo e montadoras, quem perde é o consumidor.
Na teoria, o plano do governo fazia sentido. Criar um regime que estimulasse as montadoras multinacionais a produzir no País e, principalmente, a desenvolver tecnologia localmente.
O setor automotivo é um dos mais importantes da indústria: além de gerar bastante emprego, possui uma longa cadeia de produção, estimulando fábricas de autopeças, siderúrgicas, varejo, etc. Só que no lançamento da política industrial, Brasil Maior, a coisa já começou errada.
O governo acenou com uma redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) para as montadoras até 2016. Desde o ínicio da década de 90, mexer no IPI parece ser a única arma para lidar com esse setor. É um pleito eterno das montadoras, porque afeta diretamente suas margens de lucro, mas, com certeza, existem alternativas mais criativas.
O anúncio foi feito e só então as negociações começaram. O governo esbarrou então na forte resistência das montadoras a adotar qualquer contrapartida. As empresas queriam desoneração fiscal, mas recusavam a comprometer uma parcela do faturamento com pesquisa, não aceitavam uma meta de eficiência energética, não ofereciam contrapartida aos trabalhadores, não garantiam queda de preços ao consumidor. Esse setor é uma caixa preta. Como as montadoras não revelam seus resultados no Brasil, é impossível saber com que margem de lucro trabalham.
E as empresas começaram a pressionar. Ao mesmo tempo em que negociavam com o governo, emendaram feriados e deram férias coletivas aos operários, criando factóides. Os dados da própria indústria mostram que as vendas estão acima do patamar do ano passado – que já foi recorde. Ou seja, o excesso de estoque é resultado de um planejamento incorreto das empresas, não de um mercado em crise.
Há 15 dias, o Estado já publicava que o governo devia desistir de reduzir o IPI por causa da resistência das montadoras e estudava elevar o imposto para os importados – o