Analise fenomenológica do filme "minha vida sem mim"
“Esta é você. De olhos fechados na chuva. Nunca pensou que fosse algo assim. Você nunca se viu como. Não sei como descreveria como uma dessas pessoas que gostam de olhar para a lua ou que passam horas contemplando as ondas ou o pôr-do-sol. Deve saber de que tipo de pessoas estou falando. Talvez não saiba. Seja como for, você gosta de ficar assim lutando contra o frio e sentindo a água penetrando por sua camisa e tocando sua pele. E da sensação do chão ficando fofo debaixo de seus pés. E do cheiro e do som da chuva batendo nas folhas. De todas as coisas que estão nos livros que você não leu. Essa é você. Quem teria imaginado. Você”
Essa obra cinematográfica traduz a dicotomia do viver a partir da consciência da morte. A protagonista traz um drama comum da existência humana, em que o desafio maior está em perceber-se como um ser singular em que o tempo é mais do que um conceito cronológico, depende do sujeito que o vive cujas sensações revelam seu sentido. O filme enfatiza os conceitos de impropriedade, na qual se adota o impessoal como forma de se relacionar com o mundo, e propriedade, como a conquista pessoal de sua singularidade.
A personagem “Ann” ao se deparar com a finitude abre noção de temporalidade, colocando em questão seus propósitos, inicialmente, impessoais. A impessoalidade é percebida quando dasein, único ente que compreende ontologicamente e reconhece ser mortal, prossegue em sua vida conforme o que é colocado para todos, não reavaliando seus valores singulares e, por fim, distanciando-se dele mesmo. A falta de tempo que a personagem coloca de forma enfática frente as suas condições (“Quando você tem o primeiro filho aos 17 com o único homem que você beijou e outro filho aos 19 com o mesmo homem e mora num trailer no quintal da sua mãe e seu pai está na cadeia há 10 anos você nunca tem tempo para pensar”), mostra a distância que ela tem de si mesma