Analise de galileia
A obra em questão conta a historia de três primos que atravessam o sertão cearense para visitar o avô Raimundo Caetano, patriarca de uma família numerosa e decadente que definha na sede da fazenda Galiléia. Ismael, Davi e Adonias passaram parte da infância ali, mas fizeram o possível para cortar seus laços com a terra de origem. Fazem parte de uma geração que largou o campo para nunca mais voltar. Foram viver no exterior, procuraram reconstruir a vida em Recife, em São Paulo, na Noruega.
O que espera os três primos ao final da viagem é uma volta radical a esta origem, a esta fazenda que um dia foi próspera, que oculta segredos e traições e "onde as pessoas se movem como nas tragédias". Por mais que os protagonistas tenham se distanciado da violência que ronda a família, voltarão a senti-la de perto, descobrindo que nunca escaparam - ou escaparão - ao destino que os cerca. Terão de se reencontrar com a família e seus fantasmas, e reviver histórias de adultério, vingança e morte. Cada membro da família construiu, ao longo do tempo, seu repertório de aflições e a visita à Galiléia provoca o cruzamento das angústias de cada um.
Galiléia e uma obra na qual o autor desfruta da vastidão espacial do gênero como se estivesse vagando no vazio do sertão. Uma transição textual que se revela num trabalho meticuloso, de construção em cima de longos diálogos, no emaranhado de tramas e em experimentações na linguagem, como o recurso visual de simular a desatenção de Adonias com espaços em branco isolando palavras e em cortes não-lineares. Brito explora a travessia à Galiléia como a linha condutora da narrativa.
A dubiedade do caráter das personagens e dos sentimentos de reencontro/despedida serve de metáfora à crise de identidade dos sertanejos. À medida que a caminhonete de Ismael avança pela estrada, o escritor promove o encontro de um sertão conectado à internet, de mulheres emancipadas pelo trabalho na confecção de redes e de motocicletas substituindo cavalos;