ANA TERRA - Adaptação Teatro
ANA TERRA
De Érico Veríssimo
Adaptação de Jadeilson Feitosa
(Vento. Teatro Popular é montado. Na sala da casa, Maneco Terra recebe Rafael Pinto Bandeira com seus oficiais. São grandes, barbudos e sujos. Comem fazendo muito barulho e de vez em quando lançam olhares indecentes para Ana.Rafael encara Ana e dirige-se para Maneco).
PINTO BANDEIRA – Vossa Mercê tem em casa uma moça mui linda. (Ana, assustada, deixa cair a faca que tinha na mão. O pai fica de cabeça baixa). Mas é muito perigoso ter uma moça assim num descampado destes...
MANECO – Mas tem três homens e três espingardas em casa para defender a moça.
(Grande silêncio)
PINTO BANDEIRA – (Despedindo-se) A sina da gente é andar no lombo dum cavalo, peleando, comendo às pressas aqui e ali, dormindo mal ao relento pra no outro dia continuar peleando. Pois é, dona, quando o último castelhano for expulso, vamos ficar donos de todo o Continente, e poderemos então ter cidades como na Europa. (Murmura): Nesse dia precisaremos de moças bonitas e trabalhadeiras como vossa mercê. Deus vos guarde! (Sai. Ana fica com o rosto em fogo).
(Ana está na sanga com roupas num cesto pra a serem lavadas. Pensa alto)
ANA – “...precisaremos de moças bonitas e trabalhadeiras”. Bonitas e trabalhadeiras. Bonitas, bonitas, bonitas... (Canta enquanto lava a roupa. De repente, tem a impressão de que não está só. Fica prestes a gritar, sob a impressão de que vai ser frechada. Vê um homem estendido no chão. Ergue-se, devagarinho, sem tirar os olhos do corpo imóvel, pega uma pedra para se proteger e grita para os de casa).
ANA – Um homem... um homem...
ANTÔNIO – Que houve?
(Chegam os pais e os irmãos)
ANA – Vi de repente... Parece que está ferido... ou morto... ou dormindo. Não sei.
D. HENRIQUETA – Quem será?
ANA – Não sei, mamãe. Acho que ele está muito ferido. Decerto veio se arrastando pra beber água na sanga e desmaiou.
(Os homens tomam a frente da situação. As mulheres