A partir de meados dos anos 1970, vários países da América Latina, então governados por regimes autoritários, deram início à sua transição para a democracia. Em alguns casos, como no Brasil, esse processo mostrou-se lento e gradual, sob pressão da sociedade civil, mas controlado em grande medida pelo governo militar. Em outros, como na Argentina, ocorreu de maneira abrupta, acelerada por eventos conjunturais, como a Guerra das Malvinas, somados a questões estruturais, como o próprio desgaste político e social da ditadura daquele país. Durante as décadas de 1970-80, diversos trabalhos no campo da Ciência Política buscaram analisar o processo de mudança de regime político na América Latina. Foram objetos privilegiados de estudo o caráter e a natureza dos processos de redemocratização, a mudança das elites políticas, o perfil das novas instituições, entre outros. Passadas mais de duas décadas, outras questões continuam a evidenciar a incompletude da redemocratização latino-americana e/ou as exigências do próprio processo de aprofundamento da democracia. A memória social acerca dos regimes autoritários que governaram diversos países da América Latina guarda estreita relação com o debate político atual a propósito dos limites e das possibilidades do regime democrático na região. Questões como políticas de memória, criação de comissões da verdade e reparações a vítimas da exceção, por exemplo, constituem temas relevantes para análise no campo da Ciência Política – agora, entretanto, ainda mais do que nos anos 1970-80, em diálogo com outras disciplinas das Ciências Humanas, como a História, renovada pelas mudanças teórico-metodológicas em seu próprio campo disciplinar, com a consolidação da chamada História do Tempo Presente. Nesse sentido, o seminário busca reunir trabalhos que discutam a relação entre memória e política dos regimes autoritários da América Latina. A memória, aqui, é compreendida como a presença do passado; presença que é sempre móvel, uma vez que está