Aluna

337 palavras 2 páginas
Há uma língua técnica que tem funcionado como língua mágica, o latim. Depois do Vaticano II o latim desapareceu da missa, desaparecendo com ele muito do seu mistério e do seu poder de invocação e, sobretudo, evocação, refugiando-se agora nas vocações do direito. Com o fim do mundo romano, o latim tornou-se uma língua morta, lembrança do imperium, restando apenas os dialectos românicos, e é nesta qualidade de morta que o seu poder de evocação alcança todas as suas potencialidades a causar profundas impressões. Nada melhor do que o que está morto para evocar fantasmas, isto todos o sabem e muitos acreditam, o medo é uma paixão universal. Este aspecto fantasmático da língua morta utilizada pela igreja, fundamento do seu prestígio, teve um efeito contaminante em todo o tecido social, sobretudo, na forma antitética da religião institucional, ou seja, a magia e a bruxaria. Invocar ou evocar o diabo funciona com mais sucesso sobre os espíritos se tudo for feito em latim. Quantos de nós não lembra o popular vade retro Satanás? As fórmulas mágicas são proferidas em língua morta, funcionam melhor, deixam um rasto de assombro bastante adequado àquilo que é de natureza sobrenatural, passe a contradição.
Com o latim, a linguagem da jurisprudência adquiriu um poder efectivo similar ao da magia negra. As locuções latinas legitimam os seus agentes, sejam advogados, magistrados ou juristas. Esse poder faz-se discricionário em qualquer contexto, em regime de inquisição ou mesmo respeitando a democrática separação dos poderes. Com as pessoas certas, a sentença é uma incógnita que tanto pode levar à condenação como ao recurso ou à prescrição. O mago negro tem a última palavra, ele envolve-se de qualquer maneira na trama das cumplicidades.
Obsceno, em rigor etimológico, significa aquilo que está fora de cena, quer dizer que o que nunca se devia pôr em cena é posto em cena ofendendo os sentidos ou o bom gosto. É o que faz o uso e abuso do latim na jurisprudência e na magia. Quid pro

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