Alguem que parte
Edição 189 - Maio 2013
Alguém que parte, alguém que fica
Em Elena, a diretora estreante Petra Costa reconstitui a trajetória da irmã, que queria ser atriz em Nova York e se suicidou. Para BRAVO!, a cineasta contou como foi revirar o passado em busca de recordações. Leia a entrevista. por Nina Rahe
Foto Divulgação
189-ci-elena
Cena do filme Elena
Alguns anos depois da morte de Elena, você se deparou com um diário dela. Gostaria que comentasse um pouco sobre esse episódio. As anotações fizeram com que a enxergasse de maneira diferente?
Sim, totalmente. Nos diários, Elena escrevia sobre coisas que eu também sentia. Eu tinha 17 anos quando os encontrei, a mesma idade que minha irmã tinha quando os escreveu. Tive a sensação de estar lendo um diário meu que não me lembrava de haver escrito. E o trecho que mais me encantou foi um em que ela dizia que na vida sentia que era sempre duas: uma Elena observadora e uma Elena realizadora. A observadora sempre censurando a outra, que era a que tentava viver. Eu até então nunca tinha encontrado palavras para expressar essa sensação tão presente também na minha vida. O que Elena buscava na arte, ela dizia, eram os momentos em que se tornava uma só. Era assim quando ela dançava, por exemplo. Me identifiquei com muitas passagens... Foi hipnotizante e, ao mesmo tempo, angustiante perceber que tínhamos tanto em comum. Começou a crescer em mim o medo de que o que havia acontecido com ela também pudesse acontecer comigo. Foi como achar um livro secreto sobre meu próprio destino. Até ler aqueles diários, o que eu tinha com Elena era a relação com uma lenda, com alguém muito diferente de mim. Pela primeira vez, notei o quanto tínhamos coisas em comum.
Quais foram as principais dificuldades e as principais surpresas ao remexer nas memórias da família para contar a trajetória de sua irmã?
Ler os diários e as cartas, assistir a vídeos gravados por ela, entrevistar cerca de 50 pessoas que conviveram com minha