Alencastro
DESCOBRIMENTOS
Luiz Felipe de Alencastro
• Retomando o tema da obra magistral de Vitorino Magalhães Godinho, e nela se inspirando, esse texto busca resumir a problemática política e econômica dos Descobrimentos.1 O período abordado se refere aos anos
1450-1640, o "longo século xvi", cobrindo o lapso de tempo iniciado com as primeiras descobertas ibéricas e concluído no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-48), quando os "velhos países capitalistás", Portugal e
Espanha, são suplantados no comércio ultramarino pelos "novos países capitalistas" do Norte da Europa, Inglaterra e Holanda..
T ê m sido extensamente estudadas as motivações religiosas e econômicas que impulsionaram os descobrimentos lusitanos. Entretanto, os objetivos geopolíticos, decorrentes da rivalidade luso-espanhola, não foram alvo da mesma atenção. Sobretudo na perspectiva d o debate historiográfico sobre o caráter não econômico do colonialismo lusitano.'
O EXPANSIONISMO
39. Cândido Portinari, painel A primeirá~mtssa no Brasil, 1947. São Paulo, Banco Boavista.
40. Pedro Peres, A elevação da cruz em Porto Seguro, 1879.
PREEMPTIVO
A expansão ultramarina portuguesa brota no seio de um reino periodicamente pòsfo em risco. Num Estado submetido à pressão política espa• nholaj;, mais tarde, à coerção econômica inglesa. Neste contexto, a Coroa lusitana engendra um expansionismo preventivo — "preemptivo" —•, engatilhado para ganhar territórios do alèm-mar que podenãnvvír a ser ocupados porMadri,' donde a extraordinária abstração geopolítica negõciada entreaSüuis^apitais ibéricas no tratado de Alcáçovas (1479), reconhecendo a soberania de Lisboa sobre Madeira, Açores e toda a África negra, e no tratado de Tordesilhas (1494), pactuando fronteiras comuns ainda por existir, em lugares remotos, inatingidos, "do que até agora está
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por descobrir no mar oceano", como especifica um dispositivo deste último texto, partilhando domínio e império sobre mares, territórios e povos