Aleluia
No livro o autor ao reinterpretar as narrativas bíblicas traz Deus a um debate, condena-o e critica-o diante de suas ações, as quais são observadas através de viagens no tempo e no espaço que na perspectiva do anti-herói são julgadas sem receio.
A punição para Caim foi de andar errante pela terra (SARAMAGO, 2009, p. 35). Esse andar errante para Saramago traz a conotação de um andar no tempo (ora para o futuro – prolepse ora para o passado: analepse) e espaço, pois, no romance, Caim percorre diversas narrativas do Antigo Testamento, sendo nos encontros e desencontros com as personagens bíblicos que Caim exerce uma atividade profética.
Ao receber sua condenação ele recebe uma marca na testa, sinal da proteção de Deus, porque também ele reconhece sua parcela de culpa na morte de Abel, e da sua censura a Caim.
O confronto entre Caim e Deus é iniciado no episódio do assassinato de Abel. O interessante nessa narrativa é Caim afirmando que matou Abel por não poder matar a Deus
As críticas saramaguianas contidas no romance são, obviamente, não fundadas em uma interpretação exegética ortodoxa e tradicional da tradição cristã. Ele escreve o texto desprendido de qualquer compromisso religioso e ele produz o seu romance ficcional a partir das críticas encontradas em sua hermenêutica do Antigo Testamento: como pode Deus escolher um irmão e menosprezar o outro sendo então co-autor de um assassinato? Que Deus é esse que mesmo sendo onisciente faz uma aposta com o diabo apenas para provar a fé de seu servo? Que Deus pai é esse que pede a seu servo o sacrifico de seu único filho? Que Deus que condena pela morte de uma única pessoa, mas que é favorável à