Alberto caeiro e a crise metafísica moderna
Estabelecer uma relação entre a poesia de Alberto Caeiro (o heterônimo de Fernando Pessoa cuja aversão à Metafísica é notória) e a Filosofia pode parecer, inicialmente, um despropósito. No entanto, veremos como esta postura de abandono de um mundo supra-sensível está de acordo com todo um movimento realizado pelo pensamento filosófico no final do século XIX que culmina com as teorias não-sistemáticas nietzschianas e com as subseqüentes teorias da Fenomenologia.
De fato, antes de associar o fazer poético de Caeiro ao pensamento moderno, a atitude cognitiva do poeta se remete, em grande parte, àqueles primeiros filósofos gregos que falavam acerca da natureza, os physiologoi, errônea e injustamente denominados de pré-socráticos(1). O próprio Caeiro reconhece a sua ligação com este saber primordial e, de certo modo, ingênuo, porém, pertinaz.
“Sou o Descobridor da Natureza.
Sou o Argonauta das sensações verdadeiras.
Trago ao Universo um novo Universo
Porque trago ao Universo ele-próprio.”(2)
Estamos diante de uma crítica à forma como o Ocidente desenvolveu, durante mais de vinte séculos, seu método de investigar o mundo segundo critérios racionais. A atitude de Caeiro é a de retomada de um modo de olhar para as coisas sem o véu deturpador e doente do intelecto.
O poeta da natureza deve se entregar ao mundo sobre o qual ele deseja falar. Ele não pode retratá-la como um espectador, mas sim como um ente integrado naquele ambiente. Pois, ao se pôr de fora, imediatamente o poeta perde o vínculo essencial e tem de se armar de conceitos vazios que mascaram a realidade sensível. A busca de Caeiro não se assemelha às indagações socráticas(4) sobre conceitos universais — e.g. bondade, beleza, justiça —, na verdade, para o poeta, enquadrar as vivências segundo tais critérios é falacioso, porque, para ele, não é assim que as coisas se apresentam.
“O que nós vemos das coisas são as coisas.
Porque veríamos nós uma coisa