Agroecologia
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Leisa Brasil
DEZ 2010 • vol. 7 n. 4
Ensino da
Agroecologia
Editorial
C
om o avanço global da agricultura industrial, as áreas irrigadas no planeta triplicaram entre
1950 e 2003 e absorvem hoje mais de 70% da água bombeada de rios, lagos e aquíferos. Somente o volume de água desperdiçada na agricultura é superior à soma dos demais consumos humanos. Apesar da baixa eficiência na conversão de água em alimentos e de provocarem acelerada degradação dos solos e o esgotamento e deterioração dos corpos d’água, os sistemas de irrigação intensiva continuam sendo largamente defendidos como alternativa para o aumento da produção agrícola e a superação dos dilemas alimentares da humanidade.
No Brasil, a implantação de grandes projetos de irrigação, em geral viabilizados por pesados investimentos públicos, favorece a dinâmica expansiva dos latifúndios monocultores em territórios ancestralmente ocupados por populações tradicionais. A transposição do rio São Francisco representa a expressão mais manifesta dessa tendência. Por trás da narrativa do progresso social ou, ainda mais cinicamente, da necessidade de se “levar água a quem tem sede”, escondem-se grupos do agronegócio interessados em extrair riquezas pela via da produção e exportação de commodities agrícolas. Nesse cenário em que os recursos hídricos assumem um papel cada vez mais crucial na manutenção dos impérios agroalimentares, surge o conceito de água virtual para que os fluxos da água incorporados nos produtos que circulam nos mercados internacionais sejam dimensionados, revelando essa face da insustentabilidade da agricultura industrializada e globalizada.
ACESSE:
www.aspta.org.br/agriculturas
Mas o desenvolvimento de agroecossistemas mais seguros sob o ponto de vista hídrico não implica necessariamente o aporte de água pela via da irrigação. É o que a agricultura camponesa vem ensinando desde sempre, ao valorizar a agrobiodiversidade,