Agricultura familiar
v. 8, n. 1 - p. 019-071 jun. 2005
Agricultura familiar e desenvolvimento rural sustentável na
Amazônia
Thomas Hurtienne – Professor e pesquisador do Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos da UFPA
R esumo
Abstract
O artigo apresenta uma discussão crítica dos conceitos teóricos e metodológicos nos quais se baseiam as análises da pequena produção agrícola na
Amazônia a partir dos anos sessenta. A visão da agricultura amazônica como agricultura itinerante, pouco produtiva, destrutora do meio ambiente e condenada ao desaparecimento devido ao avanço das grandes propriedades (o modelo do ciclo de fronteira) é contrastada com a tendência para uma consolidação da agricultura familiar baseada em sistemas de produção mais complexos, que incluem culturas permanentes, a pequena criação e gado. Essa tendência foi detectada mais claramente no Nordeste paraense, mas comprovada estatisticamente para o estado do Pará e a região Norte. Isso significa que a tese do ciclo de fronteira tem uma validez limitada, sobretudo nas regiões de colonização mais antiga.
Contudo, pesquisas sobre as fronteiras mais recentes mostram sistemas de produção que se baseiam mais fortemente na pecuária no Sul do Pará e nas culturas permanentes na Transamazônica. Esses sistemas fogem à classificação simplificada de agricultura itinerante, mas representam trajetórias diferentes do Nordeste paraense. The article presents a critical review of theoretical and methodological concepts upon which analytical works about
Amazonian peasantries since the 1960s have been based. The vision of Amazon peasants as shifting cultivators with low productivity who destroy their ecological habitat and are condemned to disappear due to the advance of large landowners
(the model of the frontier cycle) is contrasted with the tendency for the consolidation of family agriculture based on more complex production systems, including permanent cultures, small