AGOSTINHO E OS SENTIDOS DE INDIG NCIA
Na segunda parte do terceiro dia do diálogo vida feliz, Agostinho e seus convidados se debruçam sobre a questão da indigência e sua relação com a felicidade. Algumas questões se formam a esse respeito. Seria definitivamente o indigente um infeliz e aquele que não está na indigência feliz? Para tentar responder a questão, Agostinho introduz a figura do sábio para confrontá-la com a indigência. Possui o sábio alguma necessidade ou carência? Certamente possui as necessidades corporais que todos os seres humanos possuem. Então seria o sábio infeliz por possuir tais necessidades? Não.
Agostinho reafirma que a felicidade se alicerça sobre bens imutáveis. Os bens da alma são os que tornam os seres humanos felizes. O sábio alimenta seu corpo, mas, não se abate com a falta dos bens corporais. Ele possui a virtude da fortaleza, que lhe permite ter uma felicidade inabalável. Aquilo que está para além de suas possibilidades é aquilo que ele não deve querer evitar. Ele somente deseja aquilo que é realizável e se abstém do impossível. Ora, alguém assim será evidentemente feliz, pois, tudo o que ocorre está de acordo com sua vontade e nada lhe é desagradável. Isso permite ao sábio uma tranquilidade imensa. Ele evitará o sofrimento e a dor o quanto puder e não os procurará por vontade própria. Se não o fizesse, seria tolo e não sábio. Quem nada faz para evitar os males materiais é estulto. Quem tudo faz e por vezes não consegue, mas também não se abala, é sábio e feliz. O homem feliz somente deseja o que pode ter. Então, em que consistiria a indigência? Agostinho e os convidados afirmaram que o indigente é infeliz.
Com esta afirmação, poderia se supor que todo aquele que não se encontra na indigência é feliz. Agostinho cita um texto de Cícero chamado Hortênsio, que conta a história de
Orata. Ele é rico e tem todos os recursos e bens materiais à sua disposição. Não podemos dizer que Orata é indigente. Mas, será então Orata feliz? Ele possui