Caio Prado Jr. pode ser considerado o “[...] primeiro grande exemplo de interpretação do passado em função das realidades básicas da produção, da distribuição e do consumo”. Sua obra pode ser vista como um grande “salto qualitativo” na produção historiográfica brasileira, pois foi a partir do estabelecimento de seu conceito sobre “sentido da colonização” que se pôde amalgamar os diversos episódios coloniais descritos geralmente em separado, ou seja, os ciclos econômicos bem descritos por Simonsen, mas que certamente careciam de uma inter-relação (“[...] tal concepção [a de Simonsen e dos ciclos econômicos] só tem favorecido uma visão estanque da história, como numa projeção de diapositivos: sai o pau-brasil, então o açúcar e assim por diante” [Linhares & Silva). Formulações de grande peso que se seguiram, como a de Celso Furtado e, de forma muito mais evidente, Novais, tiveram em Prado um substrato essencial. Na década de 1970, no entanto, o paradigma pradiano começaria a enfrentar as primeiras oposições. O texto de Francisco Iglésias salientava a grande importância da produção de Caio Prado, mas afirmava faltarem ali dados, constatações de caráter empírico. Isto fez com que uma linha de pesquisa surgisse e fosse amplamente explorada: a chamada “cultura de monografia” passou a empenhar-se justamente na pesquisa daquilo que estava ausente, “em suma, contribuindo para o paradigma, corroborando-o, ampliando seus tentáculos”. Nas palavras de Kuhn, isto significava fazer “ciência normal”, ou seja, passa-se a examinar um fenômeno de perto, muitas vezes na tentativa de “encaixar a natureza” aos limitesditados pelo paradigma; assim, a ciência normal busca articular os fenômenos e fatos já fornecidos pelo paradigma, ao invés de buscar a criação de outras teorias. Tal “cultura de monografia” geraria um grande desconforto na historiografia. Em primeiro lugar, deixava-se de ter uma abordagem global da situação para focar-se em situações cada vez mais especificas;