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Regina Zilberman1
Feliz com o nascimento de sua filha, um casal resolve promover uma grande festa de batizado. Convida todos seus conhecidos, mas se esquece de um deles que, com grande indignação, aparece em meio às comemorações e amaldiçoa a menina recém-nascida: quando atingir quinze anos, ela morrerá. Um dos convidados, que chegara atrasado, consegue reverter a maldição, atenuando seus efeitos: a garota não morrerá, mas adormecerá por longo tempo, até ser despertada por seu salvador. O tempo passa, a profecia se cumpre: a jovem, quando completa 15 anos, cai em sono profundo, permanecendo nesse estado até ser libertada pelo rapaz que será, mais adiante, seu marido.
A história, resumida acima, é bastante conhecida desde, pelo menos, o século XVII, popularizando-se, sobretudo, depois do século XIX, sendo identificada pelo nome adotado por sua personagem principal, “A Bela Adormecida no Bosque”. Considerado um conto de fadas clássico, apresenta os elementos básicos da narrativa chamada fantástica, podendo ajudar a compreender esse gênero de ficção. Vejam-se seus traços mais constantes:
a) O começo mostra uma situação não muito diversa da vida ordinária das pessoas, como é, na história em questão, a comemoração do nascimento da criança. Nesse contexto relativamente comum, irrompe um fato extraordinário, fruto da ação de uma personagem dotada de poderes mágicos.
b) A presença dessa personagem não provoca nenhum estranhamento, nem sua ação é percebida como incomum. A magia está presente no universo das figuras ficcionais como se fosse normal e natural, embora nem sempre desejada. O que espanta, no caso, não é a circunstância de uma figura deter um poder sobrenatural, mas a extensão da maldade cometida por ela, pois deseja a morte da criança inocente.
c) Portanto, os seres munidos de poderes mágicos podem ser bons ou maus, devendo-se a diferença ao modo como se comportam perante o protagonista da