Afro Asia
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Afro-Ásia, 29/30 (2003), 389-413
A BAHIA VISTA POR CARYBÉ (1911-1997)
Matilde Matos*
P
articipar de homenagem a Carybé é obrigação feita com devoção, pelo que a obra desse grande artista representa. Acrescento aos comentários atuais, alguns que escrevi para o Jornal da Bahia entre os anos 60 e 90, agraciados pelas palavras do artista proferidas em entrevistas, e opiniões de alguns amigos mais ligados a ele. De grande penetração no exterior pela expressividade do seu estilo original, realçado na qualidade da técnica, a arte de Carybé adquiriu significado maior ao exaltar a nossa herança racial, conquistando a admiração geral da nossa gente.
Origem
Hector Julio Paride Bernabó, que se tornou famoso com o nome de
Carybé, nasceu a 9 de fevereiro de 1911, “num dia de chuva miúda e tão perto da meia-noite que não se sabe ao certo se nasci no dia que nasci ou no anterior”. Nasceu em Lanus, “espécie de subúrbio de Buenos
Aires que tem o Riachuelo no meio: aquele mesmo rio da famosa batalha separa Buenos Aires de Lanus, dormitório de pistoleiros e guardacostas de políticos”.
Pai cigano, não de galera e bastão, de alma, andou pela Argentina, Venezuela, Itália, Brasil. Carybé tinha seis meses quando a família foi para a Itália, onde ficaram nove anos. Em 1920 passaram a viver no
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Crítica de arte, membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte e da Associação
Internacional de Críticos de Arte
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Rio, em Bonsucesso. “Como estudante sempre fui ruim e tomei carinho às arvores, campinas, às praias, ao sol e à vagabundagem”. Quando ele completou 19 anos, retornaram à Argentina para ficar. Fala as três línguas de infância sem sotaque.
Aprendeu a desenhar em casa, vendo os irmãos mais velhos Arnaldo e Roberto que eram desenhistas, pintavam, esculpiam e trabalhavam em publicidade. Aos 21 anos Carybé começou a desenhar. Fazia cartuns, charges, ilustrações e escrevia - texto