O PROCESSO DE CRIOULIZA O DO REC NCAVO
18045 palavras
73 páginas
O PROCESSO DE CRIOULIZAÇÃONO RECÔNCAVO BAIANO
(1750-1800)*
Luis Nicolau Parés**
N
as últimas décadas, na área dos estudos afro-americanos, vem ganhando centralidade o debate sobre o chamado processo de crioulização.
Diversas teorias foram elaboradas para interpretar os fenômenos de hibridação étnica e cultural que resultaram do encontro de variados grupos africanos e europeus, mas, de modo geral, o debate surgiu e se desenvolveu a partir da análise das sociedades escravistas do Caribe e do Sul dos Estados Unidos. Posteriormente, a atenção se deslocou para a África enquanto espaço original da crioulização. Os estudos afro-brasileiros, desde
Nina Rodrigues, passando por Roger Bastide, até os trabalhos mais recentes de alguns historiadores, também têm se debruçado sobre as transformações das culturas e etnias africanas no Brasil.1 Porém, com exceção de
* Este ensaio apresenta resultados parciais do projeto de pesquisa intitulado “O processo de crioulização: antecedentes históricos da identidade negra na Bahia”, desenvolvido no Programa de
Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia, e financiado por uma bolsa de Desenvolvimento Científico Regional do CNPq. Agradeço aos membros da linha de pesquisa “Escravidão e Invenção da Liberdade”, do Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), e aos pareceristas de Afro-Ásia, pelos comentários e sugestões sobre uma versão preliminar do texto.
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Professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia.
1
Nina Rodrigues, Os africanos no Brasil, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1977 [1906];
Roger Bastide, Sociologia de la religión [Les religions africaines au Brésil], Gijón, Ediciones
Jucar, 1986 [1960]. Sobre etnicidades africanas na Bahia ver, por exemplo: M. Inês Cortes de
Oliveira, “Quem eram os ‘negros da Guiné’? A origem dos africanos na Bahia”, Afro-Asia, 19-20
(1997), pp. 37-74; João José Reis, Rebelião escrava no Brasil: a história do