ADOLF HITLER
Por JPC 05/2015
Ah, as virtudes da leitura! Não existe político ou intelectual "engagé" que, em programas de governo ou artigos de ocasião, não fale apaixonadamente sobre a importância do ato para uma vida luminosa.
Sempre tive dúvidas. Ler não é verbo desgarrado. Nem questão de quantidade. Ler é uma questão de qualidade. Não interessa que o sujeito leia muito. Interessa que ele leia o que vale a pena. Más leituras em más cabeças costumam ter efeitos trágicos
Adolf Hitler é um caso: 70 anos atrás, o "Führer" enfiava uma bala na cabeça. A rendição da Alemanha na Segunda Guerra Mundial viria logo a seguir.
E, nas explicações convencionais sobre a emergência do "monstro", Hitler é precisamente isso: um "monstro", sem explicação humana ou racional.
Lamento discordar: Hitler é um produto perfeitamente compreensível de uma Alemanha arruinada pela Primeira Guerra –e novamente arruinada pela Grande Depressão da década de 1930.
Além disso, a instabilidade política da República de Weimar foi terreno fértil para que um demagogo talentoso e ressentido conquistasse uma nação inteira.
Mas Hitler não se explica apenas com os conhecidos fatos da história. Aquele homem pensava, escrevia e discursava daquela maneira porque era também um leitor voraz.
Timothy W. Ryback, em livro que recomendo ("A Biblioteca Esquecida de Hitler"), permite conhecer o erudito Adolf. Quando morreu em seu bunker, Hitler deixava 16 mil volumes para a posteridade. Desses 16 mil, existem hoje uns 1.200 nos Estados Unidos.
Olhando para essas obras, e sobretudo para os sublinhados e anotações dos livros que Hitler terá realmente lido, é possível compreender melhor a sua cabeça destrutiva.
Ponto prévio: enganam-se os que pensam que o nacional-socialismo, na sua imensa boçalidade, se fez à sombra das páginas complexas de Fichte, Schopenhauer ou Nietzsche.
Desses três, Hitler retirou, quando muito, uma expressão aqui, um pensamento acolá –tudo para enfeitar os seus textos com uma ilusão de