Existe um buraco preocupante abaixo da linha d’água no casco do transatlântico que leva oBrasil até a modernidade. Acontece que as técnicas de modernidade desceram dosescritórios para o chão da fábrica e, enquanto se espalharam, põem à prova acapacidade intelectual e de raciocínio dos operários que, hábeis com as mãos e fortescom os ombros, não tiveram na adolescência a mesma formação escolar, com oito oudez anos básicos, que os colegas da Alemanha, França ou Estados Unidos. A carênciaé desprezível quando se trata de mandrilar uma engrenagem, mas se transforma numabismo quando é preciso transferir informações gerenciais para um computador ligadoao sistema distribuído de controle de materiais. Nesta hora, a tecnologia desenvolvidano Primeiro Mundo e implantada na organização inteira através de centenas demicrocomputadores exige uma argúcia intelectual só disponível entre os que fizeramginásio caprichado.Uma boa indústria mecânica nos Estados Unidos tem um micro para cada dois operários nochão da fábrica. No Brasil, casos bem-sucedidos exibem um micro para cada deztrabalhadores. O americano anda pelo galpão fazendo suas coisas e registrando-as no micromais próximo com sua senha. Acessa relatórios diferentes com seu cartão magnético,informando o estágio de suas tarefas e, assim, deixa o pessoal de vendas a par do estoque dematerial pronto e semi-acabado. Aqui, cada estação precisa de um encarregado, um líder, querepresenta a burocracia. É menos competição, que no fim do dia significa menos empregos, aocontrário do que pregavam os inimigos do computador.A solução para esse buraco é tapá-lo sem desvios na rota do progresso. Para tanto, capital etrabalho deverão arrumar uma fórmula para atualizar multidões de operários sem aumentar custos. Mário de Andrade (adaptado).
1.
Na metáfora com que se inicia o texto, o “buraco preocupante” vem a ser o (a):
A.
nível de escolaridade do operário brasileiro.
B
. antagonismo entre patrões e empregados.
C
. desordenada