Acordo Ortográfico
Por Gisela Anauate, Thaís Ferreira e Ana Aranha
Revista Época, 05 de janeiro de 2009. pg. 81-88
O texto que você lerá a partir de agora podem provocar estranhamento. Não, eles não revelam escutas clandestinas de ministros nem documentos extra-oficiais ou ultra-secretos de algum manda-chuva do governo. Não denunciam os efeitos colaterais de mais um antiinflamatório inconseqüente. Também não explicam tim-tim por tim-tim uma doença causada por um novo microorganismo poderoso. Tampouco propagam idéias paranóicas dos que crêem em algum guru de auto-ajuda eloqüente.
E – acredite – não contêm erros de português. Se a ortografia estiver ligeiramente diferente da que você está acostumado a ler, é porque serão escritos de acordo com as novas normas, ditadas pelo Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa que entra em vigor nestes primeiros dias de 2009. No Brasil, a nova ortografia passa a valer a partir de agora, embora as duas versões possam, pela lei, conviver até 31 de dezembro de 2012.
Não será fácil se adaptar ao sumiço do trema, de alguns acentos a que estamos habituados ou às oscilações do hífen. Mas não é a primeira vez que nós, que pensamos e vivemos em português, passamos por um choque desses. A primeira reforma importante do século XX aconteceu em Portugal, em 1911. Ela simplificou a ortografia e eliminou relíquias arcaicas, como o “ph” de “pharmacia”. O Brasil não participou dessa reforma.
Daí em diante, tanto a ortografia brasileira quanto a portuguesa foram para a mesa de cirurgia várias vezes, mas sofreram procedimentos distintos. Para ter uma noção de como nossa ortografia era estranha no passado, basta ler um trecho do romance Iaiá Garcia (1878), de Machado de Assis, numa edição de 1925: “Valeria não occultou o contentamento. Não lhe tinha occorido nunca a ideia de os casar; Yayá fel-a nascer, Estella abriu-a em flor; só faltava o fructo, e era justamente a parte difficil, porque a indole de Luiz