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9535 palavras 39 páginas
Baczko, Bronislaw. “A imaginação social” In: Leach, Edmund et Alii. Anthropos-Homem. Lisboa,
Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985.

IMAGINAÇÃO SOCIAL

Está na moda associar a imaginação e a política, o imaginário e o social. Estas associações e os problemas que elas traduzem tem feito uma carreira rápida e brilhante, quer nos discursos políticos e ideológicos, quer-nos das ciências humanas.
Qual é o partido que não se reclama hoje da imaginação política e social de que dá provas? A imaginação própria é exaltada, enquanto é denunciada a sua ausência ou a sua mediocridade nos adversários. Os meios de comunicação de massa contribuíram de maneira particular para a inflação destes termos. Não páram de repetir que é preciso imaginação social para controlar o futuro, para enfrentar problemas e conflitos inéditos, para se adaptar ao “choque do futuro”, etc. Os actores políticos, em especial os “chefes”, são julgados não só pelas suas competências, mas também pela imaginação política e social que lhes é atribuída ou recusada.
O discurso contestatório do ano de 1968 é um exemplo flagrante desta deslocação da imaginação no campo discursivo. Lembramo-nos ainda das inscrições que ornavam as paredes de Paris: “A imaginação no podem; “Sejamos realistas, exijamos o impossível”.
Aquilo que chama a atenção nestes slogans não é apenas um deslize semântico, que não nos deve admirar se tivermos em conta a história desta palavra cuja polissemia é notória.
A associação entre imaginação e poder continha algo de paradoxal, ou mesmo de provocatório, na medida em que um termo, cuja acepção corrente designava uma faculdade produtora de ilusões, sonhos e símbolos, e que pertencia sobretudo ao domínio das artes, irrompia agora num terreno reservado as coisas “sérias” e “reais”. Do mesmo passo, estes slogans elevavam a própria imaginação ao nível de um símbolo. Em 1968, o termo funciona como elemento importante de um dispositivo simbólico, através do qual um certo

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